Ai, desconfio de ti, ó Maio, por andares tão pardo, tão desmazelado dos teus afazeres e obrigações, que de ti só me lembro nas vezes em que empanturro a boca de cerejas e cuspo os caroços, um a um, para um alvo imaginário lembrando as cenas corriqueiras de quem lança cartas à cartola.

Andas molhado, andas, mês aventurado; obrigas-me, causa do teu capricho, a correr por lugares fechados e indistintos – ai lembranças, ai desvarios – abastados de quem já não é da minha laia, nem da minha ousadia.

Recantos suspirados, penumbras promíscuas, odores amalgamados – ó, vade retro mês malhado que atentas contra os meus usos – tempo perdido, dedicado ao nada.

Do recato porque passei, por ti, ó desvairado, assemelho-me a um franciscano sem votos, grato pela tentação, sedento de um toque ousado, ensombrado pelo querer mais do que o que me dão, borrifado para a certeza exaltando a intranquilidade.

Volúvel, tão volúvel me deixas que por isso nem me inquieto pelo que entre dentes ouço, incompreensões que seriam cruéis não soubesse eu, ó Maio, que a razão delas és tu.