Hoje é Sábado.
Acordei cedo. Despertei assustado com a campainha aos trim-trim estridentes, saltei do ninho, fui ao atendedor e questionei:
- Quem é?
- Sou eu, a vizinha, olhe que está um gato preto na armadilha. Venha ver!
- O Pako, seria o meu Pako?
O Pako é a minha panterinha, gato negríssimo, tão negro que só o mafarrico se orgulharia de tanto negrume. É um gato que adoptei da rua, da intempérie, da malvadez e da má sorte; assim o supunha.
Fugiu, fugiu de uma forma que só um gato pode fugir, e como verdadeiro gato, inspirado por uma alma majestosamente felina, optou pela sua origem, pela rua, pela caça, pelo deambular nocturno, pela liberdade natural.
Eu, nunca dono e sempre companheiro, discuti várias vezes com ele as vantagens de um lar a coberto da incerteza e desvario da má sorte.
À janela, ele ouvia-me placidamente enquanto aquecia o pelo ao sol e contrapunha a minha dissertação a favor da segurança do lar com miados trémulos mal observava uma pomba ou um pardal que à pressa passava pelos seus olhos verditos.
Vesti-me e fui à esperançada armadilha para felinos que coloquei no jardim do prédio. Olhei para o bichano mas não era o meu Pakito.
Soltei-o, numa corrida desenfreada fugiu.
Desapontado dei uma volta ao quarteirão, um quarteirão pleno de quintais, árvores, pássaros, gatos, pardais, andorinhas, melros, cães, outros bichos e de um Pakinho que esperançadamente espero que por aqui ande, num bom quarteirão.
Vim para casa, onde ainda estou, por pouco tempo porque o mar chama-me, e na dúvida de para onde ir ele impera.
Hoje é Sábado, e pela primeira vez fui nu e cru aqui o que francamente espero não repetir, porque escrever borrado em lágrimas não dá satisfação nenhuma.
A ti Pacocas, aquele abraço e sorte bichano, muita sorte, porque o custo da liberdade é pesado e cruel, pelo menos para alguns, os que de alma e coração dela nunca prescindem.
Hasta la Vista!
2 comentários:
Provavelmente deveter ido às gatas...Daqui a uma semana ou duas deve voltar a casa. Todo esmurrado de ter andado à bulha, mas deve voltar...
nao entendo afectos por animais. nao tenho cao, gato, peixe ou passaro.
contudo, os caes seguem-me ate a casa. contudo, os gatos nao fogem de mim.os passaros nao me ligam. os peixes nao me conhecem.
e quem tem animais conta-me o afecto que da e o afecto que recebe. sinto-me desnaturada.
excelente texto.
beijinhos da leonoreta
Enviar um comentário